Fechar os olhos de gratidão diante de um gesto de carinho


“Poesia não é acessório, é necessidade. Literatura não é passatempo, é o centro. É o que forma e fortalece, é o que faz resistir e suportar.” - in Movimento de recuperação poética do mundo 


Fiquei tão borocoxô por não conseguir ir ao lançamento do livro Oração para desaparecer - novo romance da escritora Socorro Acioli - que aconteceu ontem, aqui em Fortaleza, na livraria Leitura. Muito pelo fato de admirar e respeitar o trabalho de Socorro, também porque ela foi a minha primeira autora cearense lida, lá nos meus 19 anos. E ainda tive a honra de ser sua aluna em uma oficina ministrada n'O Povo, em 2017, se não me falha a memória.


Para me desfazer da tristeza, dedilhei a lombada de seus livros que estão na minha biblioteca, tendo lido todos, a sensação de falta ainda precisava ser preenchida. Busquei por ela na biblioteca virtual de São Paulo, no aplicativo BibliON e encontrei Sobre os felizes, livro de crônicas publicado em 2018, pela editora Dummar.


Eu, que já acompanhava a publicação das suas crônicas no jornal O Povo, me senti acolhida pela publicação em mãos. Na apresentação, ela nos conta sobre duas regras que estabeleceu para escrever o gênero: entregar a crônica sempre fresca, recém-escrita, "o mais perto do prazo possível", e a outra era ser honesta, escrever sempre o que pensava e sentia. Saber disso me deixou muito satisfeita, gosto da crônica não ficcional.


Começar a leitura de Sobre os felizes foi como sentar junto à Socorro, tomando café, comendo tapioca e ouvindo suas histórias com a alegria típica da sua pessoa. Nessa conversa, ela fala sobre o poder de conexão que a palavra tem; como o encontro com a elefante Khumba lhe ensinou sobre força, memória e gratidão; descreve com tristeza o apagamento da nossa cidade, Fortaleza, e a importância de preservar história e identidade através do povo e suas construções; conta como o seu amor por felinos foi sendo construído a partir do acolhimento de um gatinho Caramelo, e, assim, dando espaço para que novos felinos pudessem fazer parte da sua vida; nos revela o segredo das pessoas felizes - o sentimento é intrínseco delas, mas podemos aprender a ser também; narra de forma amorosa e emocionada o nascimento da sua segunda filha, Camila; responde, mais uma vez, de onde nascem suas ideias para a escrita...


Envolvida com as suas histórias, viagens, reflexões, declarações de amor e palavras de resistência, eu li cada crônica como se dependesse delas para viver, ou, ser uma das pessoas felizes que Socorro fala. Fiquei emocionada em vários trechos, pensativa em outros. Sua escrita me motivou a ser leve, ou ao menos começar a tentar; me encorajou a questionar sobre a minha história e sobre como estou escrevendo ela; me incentivou a sempre ter fé e me acolheu. Cada crônica lida era como um abraço de despedida, mas, com a promessa de retorno. 


Receber os seus ensinamentos sobre Literatura e Vida me levaram para mais perto de Socorro, me deixando com uma vontade enorme de marcar com ela uma tarde, em que possamos conversar mais sobre suas viagens, enquanto bordamos alguma peça, que ficará amostra em sua casa como registro de um momento especial. Enquanto esse dia não chega, risos, escrevo essa crônica com os mesmos princípios que ela, de forma honesta e com respeito. Como uma singela homenagem, o título é um trecho da crônica Santuário de elefantes.


Querida Socorro, terminada a leitura desse livro, que é uma declaração de amor a vida e a literatura, quero agradecer por suas palavras de acalento. Sua sensibilidade me comove. Já sinto saudades suas. Um abraço enorme.

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